Alvarrões
O Topónimo Alvarrões
Na tentativa de apurarmos o porquê do topónimo Alvarrões, várias foram as explicações com que nos deparámos, sendo estas quer de carácter lendário, quer de carácter livresco.
Ao nos centrarmos no vocábulo, logo constatamos que estamos perante um plural, neste caso o plural de "Alvarrão"; termo que, segundo José Pedro Machado, deriva do árabe «al-barrán», que significa «de fora, exterior, camponês». De acordo com este autor, no século XVIII (1712), este vocábulo terá surgido como «apelido ou alcunha». Através do "Obituário dos Registos Paroquiais de São Salvador de Aramenha", pudemos constatar que na freguesia também existia esse apelido, já que, no dia 10 de Abril de 1713, há um registo do óbito do Sr. João Dias Alvarrão, no lugar da Ribeira.
Numa edição de 1993 do Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, o mesmo autor já regista o termo Alvarrões como um topónimo (apresentando--o como um topónimo da Serra da Estremadura), o qual está relacionado com a «alusão a pessoas da região pertencentes a família com o apelido Alvarrão».
Esta última explicação vem ao encontro dos testemunhos de alguns habitantes da aldeia, segundo os quais o topónimo Alvarrões começou por designar o local onde outrora viveu uma família de nome "Alvarrão", sendo os seus habitantes "os Alvarrões".
Não conseguimos apurar se no lugar de Alvarrões realmente terá vivido uma família de nome Alvarrão, contudo, sabemos que essa designação toponímica existe no concelho de Marvão, pelo menos, desde o século XVII, já que no "Obituário dos Registos Paroquiais de São Salvador de Aramenha" está registada uma morte em Alvarrões, no dia 20 de Agosto de 1641. Através das Memórias Paroquiais de 1758, ficamos a conhecer um pouco melhor esse aglomerado populacional. A propósito dos montes que formavam a freguesia do Salvador de Aramenha, surge a seguinte referência: "Os Alvarroins que tem oito cazaes, vinte e seis pessoas de Comunhão, sette menores, onze Innocentes."
A avaliar por esta descrição, o topónimo em causa abarcaria uma área superior àquela que ainda hoje vem representada nas cartas topográficas e que constituía mais um dos lugares que viria a integrar a aldeia tal qual hoje se nos afigura, ou seja, um lugar localizado junto à Estrada Nacional, onde viviam os ainda tão relembrados João dos Alvarrões e João de Matos.
Nos anos 50, esta denominação terá passado a designar toda a área que actualmente compõe a aldeia dos Alvarrões, para o que contribuíram a vinda de um posto de Correio para a terra e uma atitude da D. Maria Ana Travassos. Isto é, até à década de 50 do século transacto, a correspondência para os habitantes dos lugares que actualmente compõem a aldeia dos Alvarrões era levantada em São Salvador de Aramenha. Com a abertura de um posto de Correio na loja do Sr. António Barreto, a correspondência para os habitantes desta região passou a ser agrupada e rotulada como a "correspondência dos Alvarrões", o que terá contribuído para a expansão do topónimo. Por outro lado, numa terra tão marcada pela dispersão como esta, a construção de uma capela, à qual, por vontade da D. Maria Ana Travassos, foi chamada "Capela dos Alvarrões" e onde a população dos vários lugares se juntava para orar, também poderá ter contribuído para a expansão do nome. Assim, um vocábulo que em tempos denominava um lugar da aldeia ter-se-á, paulatinamente, expandido a toda a localidade por um processo de sinédoque.
Número de Habitantes
Actualmente, esta povoação conta com cerca de 330 habitantes, dispersos pelos muitos topónimos que a integram, tais como: Carvalhal, Nave de Lobo, Teixinha, Safra Alta, Eirinhas, Cerejeirinha, Cordona, Souto Velho, Ribeiro da Caldeira, Canto Caldeira, Oliveiras, Breixol, Alvarrões, Monte Novo, Saboarias, Lajinha, Tojais, Fonte da Mulher, Pomarão, Tapada do Cabeço, Tapada do Poejo, Carris, Valado, Hortas Velhas, Ribeirinha, entre outros. Dos topónimos enumerados, a Ribeirinha é aquele em que reside maior número de população, constituindo um aglomerado central, onde se encontram sedeados a maior parte dos locais públicos da aldeia, tais como lojas, cafés, o posto médico...
Contudo, nem sempre este lugar teve esta configuração e este número de habitantes. Antigamente grande parte da zona que agora é designada por "Ribeirinha" era propriedade de uma única pessoa - João Barbas - que aí tinha duas habitações. Com a sua morte e a consequente divisão de bens pelos seus onze filhos, começaram a surgir casas em redor das já existentes, tendo-se, paulatinamente, formado um aglomerado populacional constituído sobretudo pela família Barbas.
A multiplicidade de topónimos justifica, claramente, uma expressão que ouvimos a um dos seus habitantes: "Os Alvarrões é um sítio em que cada monte tem um nome". No entanto, esta diversidade é encarada pelas gerações mais jovens e pelas mais antigas de modo diferente. Assim, se a maior parte dos jovens desconhece a existência de tantos topónimos, conhecendo apenas aquele que designa a aldeia no todo (Alvarrões); as pessoas de gerações mais velhas utilizam mais frequentemente essas designações específicas em detrimento da geral.
O Centro Cultural, Desportivo e Recreativo
Segundo a acta camarária de 26 de Junho de 1993, os jovens dos Alvarrões solicitaram à Câmara Municipal de Marvão (através de uma carta de 28/12/1992) a cedência das instalações da Escola Primária dos Carris, para aí constituírem um centro recreativo/de convívio. Esta petição foi deliberada por unanimidade favoravelmente, com a condição de que essa comissão conservasse e mantivesse as instalações, bem como autorizasse a sua utilização pela Comissão de Festas dos Alvarrões por altura da realização das festas populares. Se, por ventura, a Câmara necessitasse desse espaço, também teria que o devolver.
Assim, com o objectivo de "promover e desenvolver todas as actividades desportivas e culturais dos seus associados", foi criado, em 1993, por tempo indeterminado e sem fins lucrativos, o Centro Cultural, Desportivo e Recreativo dos Alvarrões. Aquando da sua fundação, foi estabelecido pagar uma jóia de 500$00 para se tornar sócio, sendo a quota mensal de 100$00.
Por motivos vários nessa altura o Centro não chegou a abrir, mantendo-se assim até 2002, altura em que se formou uma nova comissão, que até à data assegura o seu funcionamento e explora o bar. Para se ser sócio basta pagar uma jóia de 5€, sendo a quota mensal de 1€. Os associados podem usufruir das instalações e dos produtos do bar do CCDR e, por vezes, são-lhes dadas ainda outras benesses, como por exemplo a realização de festas. Nestas os sócios (que tenham o pagamento das quotas em dia) têm direito a comida e bebida durante todo o dia sem pagar rigorosamente nada.
Actualmente o Centro Cultural, Desportivo e Recreativo dos Alvarrões conta com cerca de 90 sócios, estando sempre aberto a aumentar o número de membros da "família" que então se foi formando.
A Capela
Até aos anos 50 do século passado, quem queria assistir à missa tinha que se deslocar a outras localidades, sendo as mais próximas São Salvador de Aramenha e Carreiras, pois nos Alvarrões não existia qualquer local de culto. Ainda que haja memória de missas campais para as quais era trazida Nossa Senhora da Estrela, a verdade é que só a partir de 1955 esta aldeia passou a dispor de uma capela, na qual os seus habitantes pudessem orar.
Perante a necessidade que se sentia de existir uma capela na terra, tentou encontrar-se um local onde a construir, que fosse o mais central possível. No entanto, nos sítios que se afiguravam como mais centrais, ninguém se revelou disposto a doar o terreno para a construção. A generosidade de tal dádiva coube ao senhor Severino Gonçalves Travassos, que cedeu uma parcela de terreno na extremidade do seu monte - Monte das Oliveiras - acrescida das pedras arrancadas para a obra e de 10 contos de réis.
Para tornar possível a construção da capela muito contribuiu a família Travassos, bem como a população da terra, quer através de donativos, quer através de mão-de-obra. Quanto ao "projecto arquitectónico", este jamais conheceu o papel, somente existiu na cabeça do mestre a quem foi incumbida a obra - mestre Tonho Mendes - havendo apenas algumas indicações do Sr. Severino. De notar que este senhor fez questão de acompanhar atentamente o desenrolar da obra e de incentivar sempre aqueles que nela trabalhavam. A este propósito, o mestre Tonho Mendes contou-nos que, no dia em que andava a fazer a abóbada, o Sr. Severino manteve-se o tempo todo a observar o seguimento de tão minucioso trabalho, sempre incentivando-o e dizendo-lhe: "Quando isso estiver pronto, estou aqui para te dar um abraço." Concluída esta fase da obra, cumpriu o prometido, elogiou-lhe o trabalho ("abençoadas mãos") e ainda lhe deu uma gorjeta.
Em 1955 surgiu, assim, uma pequena capela, na qual foi possível passar a adorar a santa escolhida para padroeira dos Alvarrões - Nossa Senhora da Conceição. A escolha desta imagem religiosa foi ideia do Sr. Severino Travassos, tendo sido oferecida pelo Sr. Manuel Vivas, na altura presidente da Câmara de Marvão. Quanto aos outros dois santos que também passaram a adornar a capela - o São José e o Santo António - a escolha do Sr. Severino não foi em vão, já que estes têm os nomes dos seus dois netos.
Havendo local de culto, havendo imagens sagradas, faltava o missal para que se pudesse celebrar missa condignamente. Perante isso, movida pelo enorme espírito de iniciativa que sempre a caracterizou, a D. Maria Ana Travassos ousou redigir uma carta a Salazar, pedindo-lhe um missal; pedido esse que foi aceite.
Assim, em 1955, foi inaugurada a capela dos Alvarrões, estando presente nessa inauguração, entre outras figuras ilustres, o Sr. Bispo de Portalegre e Castelo Branco, D. Agostinho de Moura.
A Igreja de Nossa Senhora da Conceição
Estas construções, que ao longo dos anos foram surgindo, vieram, sem dúvida, ao encontro das necessidades da população dos Alvarrões, contudo, ainda continuava a existir outra aspiração - a construção de uma igreja, na qual pudesse caber a maioria da população, já que na capela existente cabia apenas uma pequeníssima parte.
Ao longo dos anos a Comissão de Festas dos Alvarrões foi juntando dinheiro e, em 1993, essa aspiração concretizou-se; a pequenina capela foi ampliada, dando lugar à actual igreja, da qual toda a população muito se orgulha.
A acrescer às três imagens religiosas já existentes na capela, surgiu a de Nossa Senhora de Fátima, doada por duas senhoras da aldeia: Maria Francisca Antunes Transmontano e "Ti Rosa Patacas" (Rosa da Conceição Raposo). Posteriormente, com o contributo de toda a população, foi adquirido o Sagrado Coração de Jesus.
Lenda da Fonte da Mulher
Bem ao jeito da literatura popular, ao tentarmos apurar esta lenda, surgiram-nos duas versões:
Segundo a senhora Maria Almeida Camejo, o local onde hoje se encontra esta fonte, outrora, teria sido ponto de encontro entre uma Moura e o seu namorado.
Na versão do senhor Manuel Farias, nesse local aparecia no ar uma mulher às gargalhadas, que tinha por hábito dar orelhadas e que era conhecida por ter as mãos muito frias.
Claro que uma história deste tipo desperta a curiosidade infantil e várias foram as vezes que os miúdos aí se deslocaram, entre as 0.00h e a 1.00h, para tentarem presenciar tal cena.
Contudo, nunca puderam saciar a sua curiosidade.